Ano: I Número: 7
ISSN: 1983-005X
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Tipógrafos latinos, um registro

Marcello Montore

A tipografia, ferramenta básica para a comunicação, vem ganhando cada vez mais espaço e visibilidade entre os designers da América Latina, felizmente! Neste ano a terceira bienal de tipografia latino-americana Tipos Latinos 2008 apresenta uma bem montada exposição no Centro Cultural São Paulo, que vai até 27 de julho. Além da própria exposição, palestras, workshops e mesa redonda fazem parte da programação.

Ministrado pelo designer, ilustrador e typedesigner mexicano Gabriel Meave, o primeiro workshop teve como tema: Caligrafia Gótica e Inglesa, e ocorreu no Centro Cultural da Espanha, em São Paulo nos dias 9 e 10 de junho.

Meave, também autor do logotipo da Bienal (imagem ao lado), iniciou os trabalhos com uma belíssima apresentação sobre tipografias de vários povos, cujos exemplos ele vem coletando ao longo de muito tempo. Da Índia ao Afeganistão, da China à Turquia, fomos surpreendidos por inusitados desenhos de caracteres com os quais raramente tivemos contato.

Em seguida, com grande domínio da técnica, Meave desenhou alfabetos com as caligrafias góticas Textura, Fraktur e Bastarda, apontando diferenças de desenho entre cada uma delas. Desenhando caracter por caracter e comentando detalhes de suas construções, ele montou um painel para que, em seguida, os participantes pudessem praticá-las. Apesar do curto período de execução, os resultados foram surpreendentemente bons, e todos puderam perceber que o domínio da técnica exige muito, muito treino.

O segundo dia foi inteiramente dedicado à caligrafia inglesa, utilizando pena metálica. Novamente o mesmo encantamento com o resultado obtido por Meave. O que parece tão fácil e natural exige paciência e enorme esforço.

O segundo workshop do evento, cujo tema era Processos Criativos em Tipografia foi ministrado nos dias 12 e 13 de junho, no Centro Cultural São Paulo, pelo typedesigner argentino Alejandro Lo Celso, que mora no México. A turma, dividida em quatro grupos, foi convocada a desenvolver um alfabeto completo a partir de um módulo previamente acordado, buscando inovar dentro dessas limitações.

No segundo dia, além dos resultados que foram comentados pelo professor e pelos participantes, Lo Celso abordou a fisiologia envolvida na leitura e percepção dos tipos, passando por aspectos da história da tipografia, comentando tipos – sua criação e utilização adequada em projetos gráficos, e por fim apresentou uma bibliografia comentada que passava de cem livros.

Aspectos notáveis desses dois profissionais são a sua sólida formação e conhecimento profundo em contínuo desenvolvimento das matérias. Quando perguntados, nada de comentários superficiais ou sem embasamento teórico/prático, as respostas mostravam relações elaboradas por quem realmente domina uma área do conhecimento.

Apesar de no Brasil a tipografia estar sendo valorizada, e muitos designers se dedicarem a esse assunto – alguns com exclusividade –, os workshops com essas feras mostraram a grande distância que ainda temos a percorrer. Em vez de funcionar como bloqueio, essa constatação deve tornar-se um estímulo para nossa área.

 


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