Um dos faits divers da semana explora o caso da menina Stephanie dos Santos Teixeira, que morreu depois de receber uma dose de vaselina na veia em hospital de São Paulo. A auxiliar de enfermagem deveria ter aplicado soro fisiológico, mas se enganou. Ela é acusada de homicídio culposo.
A promotora de Direitos Humanos da área de saúde pública, Ana Lúcia Menezes Vieira, declarou que vai investigar as condições de atendimento do hospital, de seus técnicos, enfermeiros e médicos. E acrescentou: “Vamos apurar a forma de acondicionamento dos produtos, que pareciam estar em embalagens semelhantes, tanto o soro como a vaselina.”
A acreditar na foto publicada pelos jornais, exibida na TV e em vários sites, a embalagem não é parecida. É a mesma!
A diferença entre o soro e a vaselina é sutil, o rótulo colado sobre os frascos têm letras pequenas, não há qualquer advertência sobre o estrito uso externo da vaselina líquida...
Trata-se de morte causada por desleixo com relação ao design das embalagens, muito mais do que desatenção da profissional de saúde, ao que tudo indica.
Produtos hospitalares, remédios, substâncias químicas venenosas devem ter tratamento cuidadoso em suas embalagens. No mínimo, é preciso saber diferenciá-las e uma tampa vermelha em vez de azul já seria indício de perigo, cuidado.
Infelizmente, faz muito tempo que a ideia predominante de design é o de adornos ou de indicações sintáticas de inovações, ou seja, de valores mercadológicos. Muitos profissionais de saúde parecem desconhecer quão importante seria a intervenção de designers em várias áreas de suas atividades. As embalagens hospitalares são uma delas.
O que aconteceu não é uma tragédia, não é fatalidade. É subproduto da enorme ignorância sobre a pertinência de projetos em áreas fundamentais, nas quais a interface deve ser quase intuitiva, como num painel de automóvel ou avião; como numa sinalização de rodoviária ou aeroporto; como num caixa bancário.
Todo avanço nas pesquisas de design de informação parece se concentrar, em nosso país, quase exclusivamente naquilo que é privado ou lucrativo.
Seria importante que as associações de designers brasileiros tivessem uma espécie de plantão, recolhendo exemplos desse tipo, e mostrando aos setores responsáveis como seus projetos são canhestros.
Costuma-se fazer o chiste, quando se diz que a atividade do designer não pode ser legislada como a do engenheiro ou médico, dizendo que nada que o designer faz pode matar. Quem olhar para estas embalagens jamais repetirá a brincadeira.