Ano: I Número: 6
ISSN: 1983-005X
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A seleção dos Campana

Gilberto Paim

Campana Brothers Select é a sétima de uma série de exposições compactas realizadas na galeria Nancy e Edwin Marks, do Cooper Hewitt National Design Museum, em Nova York.  O museu vem convidando designers, artistas e escritores para criar exposições e instalações a partir de sua vasta coleção de artefatos que datam do século XVI até hoje. Já participaram do projeto a designer holandesa Hella Jongerius, o artista inglês-nigeriano Yinka Shonibare, o romancista e jornalista Kurt Andersen, e a firma de design IDEO.

Fernando e Humberto Campana selecionaram pouco mais de trinta itens, visual e materialmente complexos, principalmente de feitura artesanal, muito distantes dos cânones do design moderno. Eles não se interessaram pelos impressos, móveis e objetos representativos ou precursores da racionalidade modernista, mas pela imaginação decorativa envolvida na “fabricação de emoções”, cujos excessos kitsch e decadentistas são normalmente associados à crise ornamental do século XIX, período no qual concentraram as suas escolhas.

A mostra retoma alguns temas caros ao trabalho da dupla, como a trama complexa, presente em sua célebre cadeira Vermelha. Não se trata, como sabemos, da grade perpendicular modernista que delimita e organiza o espaço, mas da teia aparentemente caótica que tende à acumulação material e à proliferação. 

Em vez dos materiais associados ao progresso técnico industrial, destacam-se na exposição o vime e o bordo envergados em cadeiras; o chifre de boi que estrutura a poltrona e o banquinho de Welzel Friedrich, moveleiro alemão que se radicou no Texas no século XIX; o ouro associado ao cabelo ou à crina de cavalo em jóias bizarras; o papel de fibra de amoreira com padrões perfeitamente recortados nos moldes vazados japoneses Katagami para impressão em tecido, eventualmente reforçados por fios de cabelo.
 
Dando continuidade à serie Transplástica, exposta no ano passado na galeria Albion, de Londres, composta de móveis e luminárias de plástico e cipó, os Campana realizaram para o museu a cadeira Trans, na qual objetos de plástico são “engolidos” pela trama do cipó, numa espécie de alegoria surrealista do planeta deformado pelos dejetos.

A opção curatorial confirma e esclarece a démarche dos irmãos Campana que dribla as fronteiras entre o design e a arte. Com o apoio de marcas italianas de prestígio como Edra e Alessi, eles têm contribuído para reiventar, de modo aparentemente paradoxal, as artes decorativas renegadas pelo modernismo no seio do design contemporâneo. Salvo que não se trata agora de elegância, riqueza material ou refinamento artesanal, mas da justaposição inesperada de materiais, reutilização e desvio de objetos cotidianos, e morfologia animal que remete aos filmes de ficção científica.

A exposição irá até 28 de setembro. No site do museu podem-se conferir imagens das peças selecionadas, slide show sobre a confecção da cadeira Trans e um filme de dez minutos sobre o processo curatorial, que inclui entrevista com os designers.

Mais informações: campana.cooperhewitt.org/

 


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