Ano: V Número: 51
ISSN: 1983-005X
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Art Nouveau por Hobsbawm
Ethel Leon

Livro: Tempos Fraturados, Cultura e Sociedade no século XX Autor(a): Eric Hobsbawm Editora: Companhia das Letras

Postado: 04/07/2013

   

Magistral o ensaio sobre Art Nouveau, de Eric Hobsbawm, publicado em Tempos Fraturados, recém publicado pela Companhia das Letras. O livro é uma coletânea de artigos, muitos dos quais dedicados a arte e cultura, de análises argutas sobre o período moderno e a contemporaneidade.E o texto em questão é resultado de uma conferência proferida no Museu Victoria and Albert, de Londres, em 2000.

Nas 14 páginas dedicadas à Arte Nova, o historiador, falecido há menos de um ano, consegue o que muitos livros de história da arte sobre o movimento não alcançam: explicar sua gênese, confrontar o estilo com os modos metropolitanos; explicar sua erupção nas capitais secundárias da Europa e perguntar-se por seu fim tão rápido.

Hobsbawm estabelece as bases de existência e a, digamos, vontade de influência dos artistas desse movimento na cena urbana e metropolitana, antes de mais nada. Ele mostra que, no período de seu surgimento, a monumentalidade burguesa era complementada pelo que chama de “instituições de serviço”, metrôs, lojas de departamentos, bancos de poupança e  moradias coletivas das novas classes médias.

As metrópoles enfrentavam questões do que viria a se chamar planejamento urbano. Os sistemas de transporte de massa eram meios de suburbanização ; assim como o surgimento de áreas ‘especializadas ‘ das cidades, em que se concentravam grande comércio ou teatros e locais de diversão.

Eram novas questões que entravam em pauta, de forma programada por administrações municipais e era nelas que os artistas Art Nouveau viam a possibilidade de expandir a arte: na vida cotidiana.  E Hobsbawm lembra bem as entradas de metrô em Paris, os escritórios de jornais como o Glasgow Herald e o die Zeit, os estúdios fotográficos em Munique e Budapeste; as bibliotecas públicas e as piscinas que foram construídas nos anos 1890, ecoando as aspirações dos movimentos sindicais.

No entanto, como bom historiador,  Hobsbawm nos chama atenção para as contradições do movimento. As vanguardas artísticas que abraçaram o Art Nouveau faziam parte de uma elite intelectual antiburguesa, enquanto sua produção nada teve de anticapitalista.  É certo que Victor Horta projetou a sede do Partido Trabalhista em Bruxelas, e é de Berlage o projeto do Sindicato dos Trabalhadores em Diamantes, em Amsterdã. As formas a que faziam referência respeitavam o trabalho anterior de William Morris e do Arts and Crafts, também comprometido com a crítica social do capitalismo industrial britânico.

Mas o Art Nouveau continental, em suas diversas manifestações nacionais e regionais, privilegiava o conforto doméstico burguês, e não o prestígio das elites aristocráticas. O novo estilo internacional acompanhou o movimento de consolidação das classes médias, afastadas de tarefas públicas notórias e vivendo com intensidade a nova vida privada.

Hobsbawm acentua também o afrouxamento do rigor moral que caracterizava a burguesia. Os valores puritanos já não eram tão úteis. “Gastar”, diz o autor, “tornou-se tão importante quanto ganhar”. As classes médias se identificavam com o consumo e as formas curvilíneas do Art Nouveau se espalhavam em objetos caros (como joias exclusivas) e baratos, ou seja, atendiam a diversas faixas de consumo.

Outro afrouxamento foi o da família patriarcal. Institui-se nesse momento, a noção de juventude, a faixa etária entre a adolescência e o casamento. Jugendstil (estilo jovem), lembra o autor, é o nome do Art Nouveau na Alemanha.

Os diferentes Art Nouveau cruzavam referências importantes – os arabescos dinamográficos defendidos por Heny van de Velde, com referências simbólicas locais. Nesse sentido, davam vazão a uma busca de identidades regionais das quais se orgulhavam as burguesias locais, como a de Barcelona e de outras capitais secundárias da Europa.

Como historiador, ele não deixa de perguntar por que o estilo tão vitorioso internacionalmente durou tão pouco. Sua resposta se funda no idealismo anti-industrialista adotado nas formas orgânicas do estilo. Para ele, “qualquer estilo adequado à sociedade de consumo de massa do novo século...tinha de rejeitar o anti-industrialismo, pois precisava se adaptar à produção em massa e ser compatibilizado com a máquina.”

E também, aquelas famílias endinheiradas que patrocinaram o estilo ruíram com a I Guerra Mundial. Seu herdeiro direto, segundo Hobsbawm seria o retilíneo Art Déco, mais apropriado para a paisagem metropolitana dos Estados Unidos.

 

 


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