Ano: V Número: 52
ISSN: 1983-005X
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Quantos tons você conhece?
Maria Beatriz Ribolla

Livro: A Psicologia das Cores. Como as cores afetam a emoção e a razão. Autor(a): Eva Heller Editora: Gustavo Gili

Postado: 29/08/2013

   

Eva Heller, socióloga e psicóloga alemã publicou o livro A Psicologia da Cores – Como as cores afetam a emoção e a razão, em 2000, somente traduzido para o português em 2012. 

A autora inicia os capítulos curiosamente sugerindo a frase: Quantos tons de azul (cinza, etc) você conhece?  Desta forma nomeia os diversos tons, que confesso, não sei como diferenciá-los... azul geada, azul geleira, azul gelo.

Ela não nos esclarece se esta pergunta fez parte da pesquisa que originou o livro, ou se os diferentes tons de cada uma das cores são referências de suas pesquisas teóricas nos diversos campos conceituais que percorreu em sua vida acadêmica e literária.

O livro apresenta a pesquisa realizada por Heller, na Alemanha, sobre a relação das cores com os sentimentos, que segundo ela, apesar das percepções e experiências individuais, configuram significados considerados universais.

Para tanto foram consultados dois mil homens e mulheres, com idade entre 14 e 97 anos, dentre cerca de 219 profissões diferentes. A pesquisa buscou a associação de 160 conceitos (sentimentos e impressões) à cores ou acordes cromáticos (conjunto de cores que tenham as mesmas associações, ou semelhantes).

Certamente as conclusões da autora levantam questões significativas para o estudo das cores, tanto no campo perceptivo quanto no simbólico. Mas a falta de rigor na explicitação de dados sobre os procedimentos e a análise dos dados coletados, necessários para a compreensão de uma pesquisa científica, provoca certo desconforto diante dos resultados apresentados. Visto que é uma área muito complexa, com muitas variantes e fortemente marcada pela subjetividade.

Ao percorrermos sua explanação sobre os objetivos do estudo, creio que a autora poderia descrever de forma mais clara a configuração do grupo amostral, em relação ao gênero e a idade, pois estes dados poderiam dar ao leitor uma análise mais ampla sobre o fenômeno cor na formação do comportamento humano.

As diferenças de gênero e idade nas escolhas de cores que correspondem aos determinados conceitos, são apenas citadas no início dos capítulos e ao leitor resta a suspeita de que houve, na análise dos dados, a percepção dos diferentes universos.

O livro é dividido em treze capítulos e em cada um é apresentada uma cor, na seguinte sequência: Azul, Vermelho, Amarelo, Verde, Preto, Branco, Laranja, Violeta, Rosa, Ouro, Prata, Marrom e Cinza.

Todos são iniciados com a divulgação dos dados quantitativos, ou seja, o quanto as pessoas identificam a cor com um determinado conceito ou símbolo.

Neste sentido, Heller discute quais são as características de cada cor, considerando os aspectos históricos, culturais, semióticos e estéticos que determinam a constituição da relação psicológica do homem com as cores.

 Heller, na composição de seu texto, chama a atenção do leitor por meio das diversas histórias que narra no decorrer dos capítulos. Algumas ilustram a construção simbólica das cores no tempo, outras o manejo técnico da fabricação dos pigmentos nas diferentes culturas e suas consequências, ou ainda as associações das cores às questões políticas, religiosas e místicas.

Todos os assuntos tratados são oferecidos ao leitor de forma sintética como informações parciais e breves sobre vários assuntos relativos a cor em questão. De forma semelhante a autora cita alguns teóricos da cor, como Goethe e Kandisnky e levanta dados sobre as diferentes teorias, analisando-as também de maneira sintética.

Neste sentido, observo que o leitor que desconheça as teorias discutidas possa interpretá-las de forma superficial, perdendo a complexidade peculiar de cada construção.

O livro traz também dois encartes de imagens, no primeiro há os gráficos resultantes das escolhas das cores preferidas e as menos apreciadas pelos pesquisados.

Outras ilustrações são os grupos de cores, acordes cromáticos que caracterizam os sentimentos e as impressões.

No segundo encarte, estão dispostas as imagens que ilustram a utilização das cores discutidas nos capítulos do livro. O leitor mais atento certamente percebe a dificuldade de leitura e o aspecto fragmentado das informações, originados pela disposição espacial dos elementos compositivos.

Enfim, A Psicologia das Cores de Heller é um livro que traz contribuições para o conhecimento da construção cultural da cor, abarcando aspectos históricos e semióticos.

Não se trata de um compêndio de fórmulas prontas para serem aplicadas por quem trabalha com cores, nem ao menos uma espécie de “dicionário” de significados das cores. Seria um erro crucial pensá-lo desta forma.

 A autora traz de forma inédita fatos históricos que nos auxiliam a pensar sobre a formação e o uso das cores nas diferentes culturas, o que nos leva a ampliar a compreensão da psicologia e da simbologia de cada cor ao contextualizá-la.

O levantamento de dados proposto pela autora, aponta em sua análise elementos que podem ser observados nas vivências do cotidiano, mas a falta de rigor acadêmico na descrição e caracterização da pesquisa, gera muitas dúvidas em relação às conclusões e considerações sugeridas pela autora.

O que esta pesquisa nos faz refletir é sobre a necessidade de pesquisas consistentes sobre o tema, ou seja, como a cor nos afeta neste momento sócio - histórico com tantas discussões sobre as alterações perceptuais produzidas pelas novas mídias.

Neste sentido, a leitura de A Psicologia das Cores traz especial interesse para todos que estão iniciando seus estudos sobre as cores ou aqueles que buscam, em suas diferentes áreas de atuação, informações sobre a origem das cores na história da cultura.

 

Maria Beatriz Ribolla é mestre em Distúrbios do Desenvolvimento (Universidade Mackenzie), especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Sedes Sapientiae), Arteterapia (Universidade Potiguar) e História da Arte (FAAP). Psicóloga e licenciada em Artes Visuais é atualmente professora de Estrutura da Linguagem Visual, Estética e Cultura, e Linguagem Visual (ESPM e FAAP), nos cursos de Comunicação Social, Design e Jornalismo.

 

 

 


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