Ano: V Número: 53
ISSN: 1983-005X
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Os caminhos do bom projeto
Walter Spina Jr.

Livro: Pelos caminhos do design: metodologia de projeto Autor(a): Roseane Fonseca de Freitas Martins e Júlio Costa de Souza van der Linden (orgs.) Editora: Eduel

Postado: 31/10/2013

   

Organizado pelos professores Roseane Fonseca de Freitas Martins e Júlio Costa de Souza van der Linden, e com introdução do designer e professor Joaquin Redig, o livro Pelos caminhos do design – metodologia de projeto foi lançado em 2012 por meio de uma parceria entre a Editora da Universidade Estadual de Londrina, a Eduel, e a Rio Books.

Trata-se de um conjunto de textos de diversos autores sobre o tema projetar e tem como objetivo discutir os métodos utilizados no desenvolvimento de novos produtos, apresentando aspectos teóricos e práticos do design.­­

Inicialmente, a publicação apresenta uma breve definição do que é design e, dentro do enorme escopo dessa atividade, os aspectos fundamentais que permeiam seus projetos. Os professores Antônio Martiniano Fontoura e Suraia Felipe Farah fazem breve introdução do momento histórico que culminou no surgimento do designer e, com ele, os primeiros métodos projetuais.

Segundo Fontoura e Farah, as primeiras metodologias de projeto surgiram há quase um século, tendo como principais motivações a necessidade de buscar mais segurança e organização nos processos de desenvolvimento de novos produtos, assim como a resposta ao sistema econômico capitalista, intensificado pela Revolução Industrial que, assim como hoje, já visava maior eficiência, rapidez e baixos custos de produção.

Para eles, esta preocupação com os processos de desenvolvimento iniciou-se na Bauhaus, em 1920, tornando-se mais clara e racional no movimento De Stijl até chegar à escola de Ulm, que promoveu de forma mais acentuada a aproximação do design com a ciência.

As metodologias também sofreram forte influência de métodos científicos aplicados na engenharia durante o período entre guerras e no pós 2ª Guerra. Contudo, segundo os autores, foi a partir de 1962 que o tema ganhou mais relevância no meio acadêmico, quando aconteceu aConference on Systematec and Intuitive Methedos in Engeneering, Industrial Design, Arquitecture and Communications, realizada no Imperial College, em Londres.

Segundo os autores, ao longo desse processo, muitas das metodologias passaram a adotar uma postura técnica e sistemática, negligenciando justamente o principal motivador do design, as necessidades humanas. Tal postura enfraqueceu o entusiasmo na busca de novos caminhos de projeto, mas foi a principal responsável pela retomada do pensamento de um design cujas soluções não estariam sujeitas ao rigor da ciência e da engenharia, no decorrer da década de 1960.

Essa nova concepção surgiu paralela aos movimentos democráticos emergentes da época e promoveu o envolvimento dos usuários nas tomadas de decisão e identificação dos objetivos. Foi chamada de métodos de segunda geração pelo professor e estudioso Horst W. J.Rittel que, juntamente com o professor e teórico Melvin M. Webber, desenvolveu novas teorias e procedimentos que influenciaram de forma significativa as metodologias que conhecemos e utilizamos hoje, fortemente vinculadas às ciências humanas e sociais.

Embora a história nos apresente diferentes abordagens em relação aos processos de projetar, segundo os autores, atualmente há um consenso de que não existe um método único, que possa ser aplicado a qualquer situação e obter resultados capazes de responder plenamente aos problemas identificados a priori e suas peculiaridades.

Nesse sentido, o projeto de um sistema de sinalização urbana para uma região com baixos índices de desenvolvimento humano, por exemplo, seria completamente distinto de um projeto desenvolvido para um centro urbano cuja população tenha acesso a educação e cultura de qualidade.

Embora o design englobe disciplinas mais formais, como as relacionadas à ergonomia visual, ele também é fortemente influenciado pelas experiências e conhecimentos dos envolvidos na sua elaboração. Sendo assim, a participação dos usuários nesse processo traria informações importantes, peculiares ao problema enfrentado e, possivelmente, geraria um projeto com maior potencial de sucesso.

Cada projeto de design tem a necessidade de solucionar problemas e apresenta especificidades diversas, que exigem e possibilitam diferentes abordagens e soluções. Por isso, os exemplos apresentados no decorrer do livro têm como objetivo orientar os designers e os profissionais de atividades relacionadas, servindo de inspiração no desenvolvimento de um processo particular, adequado às reais necessidades de seus usuários.

Em tempos perigosos, com o termo design sendo incorporado equivocadamente ao vocabulário popular, seja para dar um ar moderno para as atividades de cabeleireiros e decoradores de bolos, ou ainda pior, de forma mais traiçoeira, como um simples instrumento da publicidade e do marketing, fica evidente a necessidade do conteúdo apresentado no livro.

Uma metodologia de projeto de design deve interagir com os usuários/consumidores do produto, utilizar de forma criativa o conhecimento gerado por esse contato, apropriar-se do saber das outras áreas do conhecimento e ter em mente um objetivo, solucionar problemas.

 

Walter Spina Jr. é designer graduado pela FACAMP (Faculdades de Campinas) e diretor de arte da C4 Publicidade.

 


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