Ano: VI Número: 60
ISSN: 1983-005X
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A luz natural como referência
Lêda Brandão de Oliveira

Livro: Iluminação no Design de Interiores Autor(a): Malcolm Innes Editora: Gustavo Gili

Postado: 22/12/2014

   

O livro Iluminação no Design de Interiores lançado em português pela editora Gustavo Gili é um perfeito representante dos manuais ingleses e americanos que explicam tudo sem deixar escapar aquilo que para muitos pareceria o óbvio. Têm esse sentido prático de se proporem a ensinar exatamente para aqueles que nada sabem. Assim, o livro pretende dar conta de todos os aspectos da iluminação desde a teoria física até a contratação pelo cliente e a apresentação do projeto. Um verdadeiro curso de introdução à iluminação de interiores que deixa de lado as fórmulas matemáticas para se concentrar na concepção do projeto integrado à arquitetura do edifício.

O autor, Malcolm Innes, é um experiente designer de iluminação e professor da Napier University of Edinburgh, na Escócia. Trabalhou em grandes empresas de Lighting Design e hoje atua como designer e artista de iluminação independente. Seus projetos e obras de arte podem ver vistos no site: http://www.lightartist.co.uk. Sua experiência como professor fica evidente na organização precisa e objetiva do livro que dedica a primeira parte à teoria e propriedades físicas da luz e a segunda parte ao projeto de iluminação em si.

Logo no início, Innes deixa claro seu encantamento com a luz, atribuindo a ela o poder de revelar os espaços, as cores e texturas. Parte, então, para analisar as complexas propriedades da luz e da visão. Consegue explicar com clareza a simbiose entre o comportamento da luz ao penetrar os espaços com a adaptabilidade dos olhos às mudanças dos níveis de iluminação.

Mas seu mote mais interessante e recorrente está em compreender a luz natural como um parâmetro para a concepção da iluminação artificial. Ele acredita que os seres humanos são mais adaptados à luz natural que a artificial, afinal como espécie passamos milhões de anos convivendo apenas com a luz do sol. Essa compreensão facilitaria a criação de ambientes visualmente confortáveis e permitiria uma maior integração e o ordenamento dos espaços. Por isso ele dedica um capítulo inteiro à iluminação natural para, no capítulo seguinte, analisar a iluminação artificial.

Na segunda parte do livro, intitulada "Processo e Prática", o autor parte para a avaliação dos princípios da luminotécnica, sempre buscando referências na luz natural. Discorre sobre os tradicionais critérios de projeto de iluminação como hierarquia, ritmo e variação, nível de iluminação, iluminação para orientação e integração com arquitetura, mas não deixa nunca de cotejar esses fundamentos da iluminação artificial com as características da natural. Desta forma confere solidez aos conceitos que permeiam o projeto. E o faz com grande habilidade, apresentando estudos de caso realmente pertinentes e esclarecedores.

Ele estuda, por exemplo, o caso do Terminal 2F do aeroporto Charles de Gaulle. Nele os projetistas se valem da luz para reforçar o senso de orientação. O mantra do projeto seria: siga a luz. O nível de iluminação natural segue em um crescendo desde o check in até o portão de embarque. Outro exemplo é o Terminal 4 do Aeroporto de Barajas emque a integração entre a luz natural e as luminárias promove uma iluminação muito homogênea ao nível do piso, repetindo a sensação da luz natural seja de dia, seja de noite.

Os demais capítulos são dedicados ao processo do projeto desde o estudo preliminar à entrega, passando pela avaliação das diferentes formas de registro e visualização do projetado e pela apresentação e representação gráfica da luz. São capítulos valiosos para o estudante que neles encontra uma metodologia de projeto bastante completa.

Apenas um capítulo é dispensável no livro, justamente o final intitulado "Conclusão: o futuro". Nele Malcolm Innes refere-se por alto às novas tecnologias e sua velocidade de transformação para, logo em seguida, afirmar que este não é o foco do livro porque considera o projeto mais do que a soma das tecnologias. Melhor seria sintetizar as ideias centrais do livro que apresenta a luminotécnica como parte integrante da arquitetura e como ela se concretiza ao responder a diversos critérios, por vezes conflitantes. De qualquer forma este é um livro valioso para o estudante que, depois de lê-lo uma primeira vez, poderá voltar a ele em busca de informações mais sutis. E, finalmente, não entediará os designers mais experientes.

 

Lêda Brandão de Oliveira é arquiteta e designer. Possui doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2005). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Arquitetura do Edifício. 

 


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