Ano: I Número: 6
ISSN: 1983-005X
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Como fazer revistas by Jan White
Marise De Chirico

Livro: Edição e Design – para designers, diretores de arte e editores Autor(a): Jan V. White Editora: JSN Editora

Postado: 16/06/2008

   

Edição e Design, a bíblia do design de revistas de Jan White, foi publicado pela JSN Editora em 2006. O texto original é de 1974, mas o autor fez uma revisão especial para a edição brasileira. O livro tem consultoria de Thomaz Souto Corrêa, o responsável por adotá-lo como principal referência nas revistas da Editora Abril. Como conseqüência, Edição e Design influenciou gerações de editores, designers e leitores, ainda que indiretamente.

O livro traz dicas para fazedores de revistas – sejam eles profissionais do texto, da arte ou da edição –, organizadas em 27 tópicos (publicação, espaçamento, títulos, tipografia, imagens, entre outros), além de um glossário e um curioso apêndice. Estas dicas são resultado de anos de prática do autor: orientações de como definir um produto de venda eficaz e contar uma história de maneira sedutora para transformar em leitor aquele que folheia desatentamente a revista. Contudo, tem um foco específico: "Apresentar quais são as técnicas fundamentais que parecem funcionar para a equipe formada por editor e designer".

White, que nos últimos 30 anos correu o mundo fazendo consultorias e palestras (contabilizou 1,8 mil seminários em 27 países), diz ter encontrado as mesmas questões em todas as redações nas quais trabalhou, sobretudo a tradicional atitude de confronto entre editores e designers. Propõe então, a ação conjunta de ambos, em favor da cooptação do leitor. Edição e Design, a tradução para o português do título original Editing by Design, já equipara as duas atividades e parece defender o convívio harmonioso entre elas.

Segundo White, poucas coisas mudaram no ramo editorial nos últimos 50 anos, entre elas o temor do câncer de pulmão e o surgimento dos Macs. O fato é que o embate entre texto e arte persiste até hoje e, por mais que Edição e Design aposte na equiparação, é indiscutível que a contemporaneidade privilegia a informação visual e que tanto a computação gráfica como a editoração eletrônica favoreceram o design. Além disso, a era do zapping e da internet exige velocidade na comunicação, o que privilegia a imagem, mais impactante e com mais apelo emocional.

O primeiro aspecto abordado no livro é a revista como objeto. White trata aqui do paradigma da página dupla que, apesar de ser visualizada plana no monitor no momento do design, é seqüencial, com dobra, grampo ou costura, e entrecortada por anúncios. Mostra também como o ritmo do desenho das páginas é responsável pela captação do olhar do leitor que, fisgado, percebe-se envolvido pelo conteúdo.

O segundo é a navegação da revista, ponto em que se discutem aspectos como hierarquia de informação, tipografia, fundo e uso do espaço em branco, fluxo de leitura. Assim, White  chega na característica mais específica do suporte revista – o que ele chama de desfile, as páginas como evento e não como acontecimentos isolados.

Todos os elementos e as relações do design que estão presentes no livro aparecem em forma de dicas, ligeiras e precisas (dicas sobre tipografia, diagramação, malha diagramática, edição de imagens, ilustração, gráficos, comportamento do leitor, psicologia das cores, gestalt, filosofia da forma).

No apêndice, as considerações finais são chamadas pelo autor de "outras manhas do negócio" e são apresentadas em formato de perguntas e respostas.

A linguagem do livro, tanto verbal quanto visual, é de apreensão rápida – seja dos conceitos, seja das técnicas de uso pontual. As inúmeras metáforas, como por exemplo a das placas de sinalização de uma estrada para ilustrar a função de chamar a atenção, são apresentadas de forma simples e direta. As dicas de uso imediato podem ser consultadas separadamente em um momento de necessidade.

O livro é bem ilustrado: toda dica ou conceito é um desenho de traço singelo feito pelo autor, que nos remete aos rascunhos e aos cadernos de apontamentos. Cultivar essas imagens originais mantém o caráter fundamentalmente humanista da atividade, bastante ofuscado pela avalanche digital.

Por fim, White adota o bom humor como método, o que torna a leitura acessível e perfeita para estudantes. Para os jovens designers, White diria: "Torne-se tão hábil verbalmente como visualmente" e "procure ter uma cultura tão ampla quanto os editores e o pessoal do texto". E para os editores aconselharia: " Nunca rejeite um layout dizendo apenas \\\'não gostei\\\'".

Por tudo isso, Edição e Design é um livro indicado sobretudo para principiantes, por despertar a consciência de que design exige aprofundamento, pesquisa e dedicação. É conclusivo no que diz respeito à parceria entre texto e design, afirmando que o designer deve ampliar sua formação editorial tal como os editores já estão se aprofundando nas questões de design.

 

White, Jan V. Edição e Design – para designers, diretores de arte e editores. São Paulo: JSN Editora, 2006. 248 p. ISBN 85-85985-17-8

 

Marise De Chirico é designer gráfico, mestre em artes visuais pelo Instituto de Artes da Unesp e professora de projeto no curso de graduação em Design da ESPM. Desde 1999 é sócia do estação design gráfico [www.estacaodesigngrafico.com.br].

 


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