Ano: III Número: 31
ISSN: 1983-005X
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Atraídos pelo Desconhecido
Walter Spina Jr.

Livro: Como se faz Autor(a): Chris Lefteri Editora: Blücher, 2010

Postado: 21/07/2010

   

Atualmente, encontram-se no mercado editorial nacional muitas publicações voltadas aos designers de produtos. Muitas delas são constituídas por uma série de objetos selecionados ora pela sua importância no contexto histórico a nível regional, ora por apresentarem soluções que indicam novos caminhos para a prática do design. Compostas, geralmente, pelas imagens do objeto selecionado, seu autor, nome da empresa responsável pela encomenda, fabricante, materiais utilizados, quando muito, fazem uma vaga menção aos processos empregados em sua fabricação, sejam eles industriais ou artesanais. Como se faz, de Chris Lefteri, rompe com esse padrão. Seu foco está nos processos de produção, dos quais faz minucioso inventário. 

A crescente preocupação com as questões ambientais e, por isso, com a procedência dos materiais e a racionalização dos sistemas produtivos tem contribuído para o melhor detalhamento destes processos. Raramente, no entanto, esta etapa é bem conhecida para os leitores dessas publicações, inclusive os designers. E estes acabam se tornando muito dependentes dos profissionais de engenharia quando se trata de processos industriais. Grande parte das publicações que poderiam fornecer este guia para a autonomia dos designers, é direcionada às áreas de engenharia, apresentando explicações muito técnicas, em linguagem pouco atraente.

No livro Como se Faz, recém publicado no Brasil pela Editora Blücher, Chris Lefteri afirma que ‘‘os designers precisam controlar não só o design, mas também as maneiras de como se produz’’ e apresenta 82 técnicas de fabricação para design de produtos. Com linguagem objetiva, o autor apresenta diferentes técnicas produtivas, das mais simples, e não menos importantes às mais elaboradas e pouco difundidas, através de texto descritivo, imagens de produtos, ilustrações explicativas dos processos e tabelas que, além de ressaltar as vantagens e desvantagens de cada técnica, informam o leitor sobre as características indispensáveis na sua avaliação: volume de produção, velocidade, custo de produção e de investimentos, tolerâncias, formas possíveis, métodos similares etc. 

No projeto de um novo produto, o designer depende, em grande parte, da tecnologia disponível pela empresa para a qual trabalha. A proposta do produto esperado e a capacidade de produção são questões que permeiam seu trabalho, do início ao fim. A tecnologia disponível pela empresa ou pelo parque industrial regional muitas vezes é vista pelos designers como um fator limitador quando, na verdade, deveria ser encarada como apenas mais uma das características definidas pelo briefing

Lefteri, que é professor no St. Martins School of Design de Londres e tem oito livros publicados sobre materiais (plásticos, metais, vidro e outros) lembra que o ‘‘designer gosta de se apropriar das técnicas, novas e antigas, para transformá-las em algo inovador’’. E para isso deve ter um bom conhecimento das técnicas e possibilidades de fabricação. Um bom exemplo dessa inovação através da técnica produtiva, e que está presente no livro, é a linha ‘‘Fresh Fat’’, projetada pelo designer inglês Tom Dixon, em 2000. Utilizando a técnica de extrusão, Dixon produz uma liga plástica contínua, que é inserida manualmente em moldes e dá forma a cadeiras, mesas e utensílios. Embora essa técnica possa apresentar algumas desvantagens, como baixo volume produtivo devido à produção artesanal, mostra uma nova forma de utilização de um processo amplamente difundido e disponível a indústrias de diversos países. 

Assim como mostra a construção de novas formas a partir de técnicas bem conhecidas pelos designers, Como se faz também apresenta processos pouco conhecidos como a Pultrusão, técnica semelhante à Extrusão, mas que  é utilizada ‘‘para dar forma à compósitos que usam longas fibras com reforço’’ e não alumínio, termoplásticos e compósitos de madeira, como faz a Extrusão. Outra diferença é que o material é puxado por uma matriz aquecida, dando forma ao material e deixando-o incrivelmente rígido e denso.

Como o próprio autor reconhece, o livro provavelmente não será lido como um texto seqüencial, devido ao fato de as técnicas de produção estarem organizadas a partir das formas que podem gerar, o que é mais interessante para os designers. Essa organização torna a leitura não linear, porém muito explicativa e funcional para consultas em relação a determinados processos e materiais. Pela viagem ao mundo das técnicas fabris, Como se Faz é um título mais do que indispensável aos designers, estudantes e aos ‘‘atraídos pelo desconhecido’’.

 


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